Dia 59
Fevereiro 28, 2021
Tirou o charuto e fechou a caixa. Era uma pequena caixa de madeira clara, que o levava directamente para momentos que já não voltariam. Sol, praia, muita cerveja, muito amor. Lembra-se de comprar aquela caixa de charutos numa cidade pequena, directamente numa loja improvisada à saída da fábrica onde o levaram de autocarro, por estradas mal cuidadas, a cerca de uma hora de Havana. Ela não queria ir, mas acabou por convencê-la. Naqueles dias era tudo simples, era tão fácil cederem um ao outro, até os desentendimentos se processavam entre risos e beijos. Arrumava agora a caixa a pensar no momento em que as coisas começaram a correr mal, mas nunca conseguiu identificar um ponto concreto. Lembra-se de ver a bola de neve a crescer, mas não consegue precisar o momento em que ela se formou. Ainda lhe sobravam charutos, de que desfrutava com parcimónia. Fumava-os não tanto pelo prazer que lhe dava sentir fumo do tabaco, mas pela oportunidade de viajar até lá, aos dias em que ainda era feliz.